SALADA DE BATATA JAPONESA E A NOSTALGIA PELA ESTAÇÃO QUE TERMINA
Cada estação contém uma vida inteira. — Ryoko Sekiguchi
Eu adoro celebrar as mudanças de estação e acho que nós deveríamos aproveitar enquanto podemos (alô, mudanças climáticas!). Sei que no Brasil as estações nem sempre são tão demarcadas, e por isso viver no hemisfério norte tem sido um privilégio nesse sentido. Aqui a gente sente a passagem de um clima ao outro e sente também o auge de cada estação. Com isso podemos nos deleitar com o que cada uma delas tem de melhor e ainda, após o final de cada uma, ansiar pelo seu retorno no que Ryoko Sekiguchi chamou de Nagori, ou a “nostalgia pela estação que termina”. Eu já recomendei esse livro um ano atrás para os leitores colaboradores e sigo pensando nas reflexões e aprendizados que ele trouxe desde então.
Os japoneses têm um jeito muito sensível de olhar para a vida e, sobretudo, para o que diz respeito à nossa relação com a natureza. Eles têm um vocabulário rico e específico para tratar o tema e ter uma palavra para designar esse sentimento tão singular mostra tal capacidade mais aguçada. Afinal, como diz a autora “a sensibilidade nasce das palavras: não sabemos perceber aquilo que carece de nome”.
Conforme ela explica, existem três termos diferentes para descrever em que momento da estação se encontra um alimento: hashiri, sakari e nagori. Eles querem dizer, respectivamente: “primeiros frutos”, “plena temporada” e “a nostalgia pela estação que termina”. Os dois primeiros termos são mais fáceis de compreender, pois falam diretamente sobre o fruto do início e o do apogeu da temporada. Mas o que seria um fruto nagori? Ela responde: “Um fruto nagori é, por exemplo, um fruto no final de sua temporada, o fruto supermaduro. Ele se despede de nós até o ano seguinte e por ele nos inspira a nostalgia”. Veja, o fruto já nem está mais no seu apogeu e ainda assim nos inspira esse sentimento tão forte. É muito bonito isso.
O objeto deste sentimento — nagori — não é necessariamente só a comida, podendo tratar de um lugar, uma pessoa, uma estação e incluir objetos e ações que evoquem tudo isso. Para quem pensou na palavra saudade, não passou longe. Ryoko fala: “nagori é um pouco a saudade japonesa, com a diferença de que as emoções que a suscitam são bem distintas”.
Eu fico por aqui, com nagori pelos tomates, pêssegos e nectarinas maduros e suculentos, mas já celebrando o hashiri do outono que, entre muitas delícias, já me trouxe caquis.
Até a próxima news,
Lena
SALADA DE BATATA JAPONESA | ポテトサラダ
Sei que é estranho eu falar de estação e trazer uma salada de batata — que ao redor do mundo comemos o ano inteiro. Mas me pareceu uma boa opção para esse momento de transição de estações e também para agradar tanto quem está adentrando a primavera quanto quem está adentrando o outono. Além disso, tem origem no Japão, assim como o livro citado nesta edição.
Os legumes utilizados não são diferentes do que usamos na nossa salada de batata brasileira, mas alguns temperos sim. Para temperar a batata, cenoura, pepino e milho, usaremos vinagre japonês de arroz e a maionese Kewpie. Não é um tipo de maionese, mas uma marca mundialmente famosa. Ela tem um sabor bem característico, cheio de umami, que agrega uma legião de fãs e já é encontrada com alguma facilidade no Brasil. Em São Paulo, os mercados da Liberdade e alguns outros mais gastronômicos, como Casa Santa Luzia, vendem. Nas demais cidades, caso a Kewpie não seja facilmente encontrada nos mercados, talvez possa ser adquirida on-line. Tentar fazer a sua própria maionese é outra opção, dado que, hoje em dia, não faltam receitas caseiras — incluindo esta aqui em português. Caso nenhuma dessas alternativas se adequem ao seu dia a dia, fique à vontade para usar outras maioneses.
De resto, nada de muito diferente. Tudo muito simples e muito saboroso. Confesso que quando tem essa salada aqui em casa, quero comer só isso e nada mais!
OUTRAS RECEITAS DE SALADA DE BATATA
Além desta, há outras três variações de salada de batata no meu site, porque saladas de batata nunca são demais:
Salada de batata com vinagrete de cominho
Salada de batata com coalhada e harissa
OUTRAS RECEITAS PARA A PRIMAVERA
Vamos fazer uma visita às receitas do arquivo porque ele está cheio de boas pedidas para a primavera, seja pelos ingredientes seja pela temperatura mais amena.
Linguado recheado com espinafre
Orecchiette com ragu de cogumelos
Frittata de queijo de cabra e cogumelos
Quadradinhos de abobrinha, ricota e feta
Panqueca baby dutch com cogumelos
Spaghetti com abobrinha e queijo de cabra
Sanduíche de frango com iogurte e curry
Carolinas com sorvete de café e calda mocha
Muffin de ricota com limão siciliano
OUTRAS RECEITAS PARA O OUTONO
Se você, como eu, está no hemisfério norte e está celebrando a chegada do outono, aqui vão dicas deliciosas para você. Nesse comecinho de estação aqui em Barcelona, os dias ainda são ensolarados e até quentes, mas as noites já são frescas – adoro!
Salada de feijão branco com figo e ricota
Salada de caqui, pera e queijo azul
Risoni cremoso com parmesão, folhas, ervilha e limão
Mignon de porco com maçãs e repolho
PARA LER | NAGORI
Nagori – la nostalgia por la estación que termina, livro que abre esta newsletter, está disponível em espanhol, francês, italiano e alemão. Ele é uma grande (e linda) reflexão sobre nossa relação com os alimentos e as estações. É relativamente curto e você vai querer grifá-lo inteirinho! Uma preciosidade à qual eu tenho retornado desde que li pela primeira vez.
A autora, Ryoko Sekiguchi, é japonesa nascida em Tóquio, mas vive em Paris há mais de vinte anos. “Além de crítica gastronômica e tradutora, publicou diversos títulos sobre o gosto e a relação entre a literatura e a cozinha”.
CRÉDITOS:
Revisão: Eloah Pina
Nagori. Extremamente apaixonada por esse conceito.
(e por essa edição, como sempre! <3)
Lendo esta edição enquanto meu companheiro chega do mercado com figos nagori, agora sei. Obrigada por partilhar e bom outono 🤎