Estou fazendo duas orientações gastronômicas e, apesar de ser um processo em que eu dou suporte para alguém refletir sobre uma série de coisas para chegar às respostas que vão ajudá-lo a tomar decisões no seu redirecionamento profissional, o processo sempre acaba por me trazer reflexões sobre o meu próprio trabalho e o meu propósito.
Uma pequena parte do processo é entender não só “o quê”, mas “ por que”. Não basta saber do que gostamos e o que queremos fazer; convém saber por que gostamos. Elaborar essa resposta é parte importante do nosso autoconhecimento, e diz respeito àquilo que nos interessa o suficiente para que dediquemos muitas horas dos nossos dias e, assim, boa parte de nossas vidas; ou seja, é algo que nos move. Entender aquilo que nos move, por sua vez, dá sentido às nossas empreitadas, às longas horas no trabalho e é o que nos sustenta nos momentos mais difíceis. É parte do que nos inspira e nos faz perseverar.
Por que eu gosto de cozinhar? Por que, independente das coisas na minha vida mudarem e até virarem do avesso, eu sigo gostando de cozinhar? Não importa se encontrei um amor gigante e casei, se o amor se multiplicou e eu me tornei mãe, se moro em São Paulo ou em Barcelona. Não importa nem se alguém um dia tentou roubar justamente o meu porquê, me sugando a alma e parte da conta bancária. Não importa o que aconteça, ou me atravesse, a minha coisinha — como bem colocou a Fabi Guimarães — estará ali, me amparando e me fazendo seguir.
Como num relacionamento feliz de longo prazo, em que convém nos lembrarmos, de tempos em tempos, por que gostamos desse alguém e por que ele nos faz feliz, me faço essa pergunta com alguma frequência. Sou eu renovando meus votos de compromisso com a profissão que escolhi, com a paixão que me acompanha. E a verdade é que, nessas horas, eu sempre volto para um pequeno texto que escrevi quando comecei a dar meus primeiros passos nesse universo. Foi um texto que veio numa sentada, de sopetão, dando vazão para anos de uma paixão represada que finalmente podia seguir seu curso.
Ele fica ali na seção “About” do Substack, mas achei que seria legal compartilhar com vocês como uma forma de renovarmos nossos votos, o meu com vocês. Afinal, estamos nesse relacionamento em que semanalmente eu me faço presente em suas caixas de e-mail e, ocasionalmente, entro nas suas cozinhas e, de alguma forma, me sento à mesa com vocês.
Por que eu gosto de cozinhar? Porque…
Acredito que a comida não só alimenta como satisfaz o apetite, atende o desejo e evoca a memória. Acredito que uma boa mesa une pessoas para partilhar não só a comida e a bebida, mas para promover encontros e histórias, fortalecendo as relações humanas.
Para mim, a gastronomia é algo que une e agrega. Ela pode representar um local, uma cultura, uma pessoa ou mesmo um sentimento. A boa comida e o bom vinho são fontes inesgotáveis de alegrias e consolos. Busco constantemente o conforto de uma xícara de café, de uma massa caseira com molho fresco, de uma fruta comida no pé, de um vinho local ou do sovar de uma massa de pão.
Gosto das grandes travessas “tamanho família” para serem compartilhadas com amigos e familiares, dos utensílios que um dia foram de minha mãe, da atenção ao detalhe de uma embalagem, do uso de ingredientes ordinários e de todo o carinho que uma refeição pode proporcionar. Cozinho para que eu possa me reconfortar, me expressar, unir, celebrar e, acima de tudo, amar.
Cozinhar e ofertar é minha forma de estar no mundo. E vocês, já sabem por que gostam de cozinhar?
Até a próxima news,
Lena