DÊ UM UP NO SEU MEZZE: MUHAMMARA E ISPANAKLI CACIK
"Viajar nem sempre é bonito. Nem sempre é confortável. Às vezes dói, até parte o coração. Mas tudo bem. A jornada muda você; ela deveria mudar você." ― Anthony Bourdain
Viajar é uma das coisas mais transformadoras que existe. Poder sair para ver o mundo e as outras formas de viver nos torna mais curiosos, mais atentos e mais empáticos. Afinal, experimentamos outras formas de comer, construir, habitar, se locomover, se divertir, conviver, crer e mais um tantão de outras coisas que formam uma cultura.
Viajar é um privilégio que não subestimo nem por um minuto, e acho que se todos tivessem a oportunidade de conhecer outros lugares e se transformar, talvez o mundo fosse um pouco melhor. Como disse Anthony Bourdain na frase que abriu esta edição: viajar deveria mudar você.
Sempre que eu me pergunto por que eu gosto tanto de cozinhar e, mais do que isso, por que estou sempre em busca de receitas para variar meu dia a dia, me dou conta de que minha incapacidade de comer as mesmas coisas cotidianamente vem do mesmo lugar onde mora a comichão da viagem. Quero preparar e comer muitas coisas –– tantas quantas eu puder! Uma vida não é suficiente para experimentar tudo que existe, então, me resta seguir cozinhando e variando dia após dia, desbravando lugares onde nunca pus meus pés, mas cujas receitas me ajudam a provar e imaginar, ou revisitando lugares que já conheço e pelos quais posso, através da cozinha, reforçar meu apreço e acessar memórias.
Estive em Londres em abril e voltei de lá cheia de dicas de restaurantes e livros na mala. É que eu fui com a minha irmã, editora de livros. Então nossa viagem consistiu em alternar os passeios entre livrarias e restaurantes (além de um pulo à casa do Freud e um dos museus mais interessantes que fui nos últimos tempos que nem mesmo amigos que moram lá conhecem! Falarei dele no Guia 2 de Londres, em breve).
Nessa viagem, um dos estabelecimentos que visitei, foi o Imad’s Syrian Kitchen, um restaurante sírio de que nunca tinha ouvido falar, mas que é considerado um Bib Gourmand pelo Guia Michelin (ou seja, entre os mais acessíveis e muito gostosos) e que me foi recomendado pela Noor Murad numa troca rápida pelo Instagram (o livro dela, recém-lançado, foi um dos que eu trouxe na mala). O lugar fica numa galeria perto da Regent Street e eu jamais teria chegado lá se não fosse pela dica dela. O restaurante é grande e estava bem cheio e alegre. As mesas eram fartas e repletas de porções no centro da mesa para serem compartilhadas — e eu queria provar tudo! Entre diversas pedidas, comi a deliciosa muhammara, uma pasta de origem síria feita com pimentões vermelhos e assados, nozes tostadas e alguns temperos.
Meses depois, fui para a Turquia e desde então ando numa febre de querer saber mais sobre a culinária daquele país, sobre a qual sei tão pouco. Folheando um livro, bati o olho numa receita que levava iogurte e espinafre, o ispanakli cacık, uma variação do cacık que é feito com pepino. Gente, que alegria foi fazer e provar essa receita tão fácil, tão saborosa e versátil!
Essas receitas estão entre as muitas coisas que provei e ganhei com essas viagens e, desde então, incrementei meu mezze!
Até a próxima news,
Lena
* “Travel isn't always pretty. It isn't always comfortable. Sometimes it hurts, it even breaks your heart. But that's okay. The journey changes you; it should change you.” — Anthony Bourdain
MAIS DUAS PASTAS PARA O SEU MEZZE!
Para quem não conhece, o mezze é um hábito de vários países do Oriente Médio de servirem pequenas porções — quentes e frias — para serem compartilhadas e consumidas como entradas. E apesar de isso descaracterizar um pouco o que eu acabei de descrever, eu adoro jantar mezze, sem nenhum prato principal. Munidos de um bom pão, eu e meu marido nos deliciamos com o clássico trio de pastas — coalhada, homus, babaganush — e, agora, muhammara e ispanakli cacık.
São ótimas pedidas para compor jantares variados, e não necessariamente aqueles de temática árabe. Por viajarem bem, também cabem em situações mais informais, como piqueniques. Elas, ainda por cima, têm a conveniência de durarem uns bons dias na geladeira se bem acondicionadas em potes herméticos.
Eu gosto de comê-las com pão tipo pita (que, em breve, faremos juntos) ou mesmo com o Simit.