Desbravar livros de receitas, lendo-os de ponta a ponta, testando receitas e analisando minuciosamente as fotos — composição, luz, cores e estilo — é algo altamente prazeroso para mim. E enquanto sigo no processo de pensar e escrever o meu próprio livro, sei, mais do que nunca, a quantidade insana de trabalho que um projeto coeso e bem executado demanda.
Ouvimos com frequência que na vida temos que plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. A árvore é o item mais fácil, sem carregar consigo poréns. Eu, pelo menos, não consigo pensar em nada de ruim sobre plantar uma árvore. Mas discordo dos demais. Ter filhos e escrever livros não é para todo mundo e está tudo bem, sua vida continua podendo ser plena. Mesmo para quem deseja e planeja ter um filho, a tarefa é altamente complexa e desafiadora, apesar de recompensadora. Pensar e escrever um livro, para mim, tem sido igual. Sinto que, após ter gestado esse projeto por anos dentro de mim, estou tentando parir. Mas como se trata de um projeto criativo, pessoal e subjetivo, o processo pode ser solitário e cheio de altos e baixos. Acredito que tenha sido no maravilhoso livro Como escrever bem, de William Zinsser, que li algo mais ou menos assim: escrever é muito difícil; bom mesmo é ter escrito. Depois descobri que Carlos Drummond de Andrade dizia o mesmo.
Enquanto sigo no meu processo (e, felizmente, essa tem sido uma semana de altos), me deleito com os projetos de outras pessoas, fruindo de tudo de bom que um livro de receitas tem para oferecer.
Neste momento, estou terminando a leitura do delicioso Bake it Better, de Matt Adlard (Asse melhor, sem tradução publicada em português). Eu tinha tudo para não comprar esse livro, porque ando resistente às publicações impressas de influenciadores digitais com seguidores na casa dos milhões — quem já leu essa news AQUI, sabe. Além disso, eu tenho um tanto de preguiça das dezenas de stories que Matt Adlard faz. Mas a simpatia e o empenho dele na confeitaria são tão grandes, que me rendi — e que bom! Matt é um confeiteiro inglês autodidata e ele teve um começo de carreira que eu considero estranho: fazendo vídeos de receitas onde sempre aparecia cozinhando sem camisa, em um canal que havia chamado de Topless Baker — algo como "o confeiteiro sem camisa". Mas na batalha por atenção e engajamento, o povo faz de tudo, não é mesmo? Dizem que envelhecer é bom, e para o Matt foi bom mesmo. Hoje em dia, até ele dá umas risadas dessa antiga fase.
Atualmente, ele desenvolve e compartilha receitas que variam desde as mais acessíveis a altamente complexas e profissionais. No caso das últimas, são verdadeiras epopeias em que ele começa com uma ideia e então parte para a fabricação de um molde em uma impressora 3D e segue com suas tentativas, muitas vezes cheias de erros antes do acerto. É tudo bem real e acredito que compartilhar tantas falhas faça dele um influenciador mais querido pelo público.
Seu livro Bake it Better foge desse universo de influência e foca totalmente em suas habilidades como bom confeiteiro e comunicador. Ele tem uma estrutura interessante que, para cada técnica proposta, oferece duas receitas: uma mais fácil e uma mais elaborada. Uma vez dominada a versão fácil, a ideia é tentar evoluir com a receita mais complexa. As fotos são maravilhosas e bem minimalistas, dando destaque para os preparos e suas texturas. Todas são de um dos meus ídolos das fotos de comida, Sam A. Harris.
O livro está dividido em sete capítulos, começando por uma introdução que abrange os principais equipamentos e ingredientes. Cada capítulo trata de um grande tema de confeitaria: bolos, massas de torta, sorvetes e biscoitos, massas de pães e folhados e receitas essenciais (creme de confeiteiro, curd de limão, caramelo salgado etc).
Como estou no meu "momento pão", comecei por este capítulo e já provei três receitas — todas muito legais. Escolhi compartilhar a da focaccia porque apesar da quantidade de receitas desse pão oferecidas na internet ser enorme, eu tinha dificuldade de encontrar uma que fosse acessível e resultasse em algo realmente gostoso e, por que não, bonito. Essa, assim como as demais receitas de pão do livro, são feitas com fermento biológico — fresco ou seco. E apesar de manter meu levain alimentado, tenho adorado a praticidade de trabalhar com outras opções.
Esta focaccia usa uma técnica de pré-fermento, segundo a qual água, farinha e parte do fermento da receita são misturados com 12 horas de antecedência. Sim, você tem que se programar, mas isso não significa que a receita seja complexa, ok? Depois tudo será misturado e você fará 4 sessões de dobras em intervalos de 30 minutos — uma técnica bastante utilizada para pães de fermentação natural e que resulta em uma massa fofa e cheia de bolhas.
O resultado será uma focaccia alta, fofinha, dourada e de tamanho generoso!
Dicas:
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