Scroll infinito e a produção frenética de receitas lacradoras
Na busca pela próxima receita lacradora, produtores de conteúdo criam coisas estranhas, copiam sem dar créditos e alimentam a lógica perversa do scroll infinito
Começo avisando que não acordei bem-humorada. Quer dizer, talvez eu até estivesse de bom humor, mas logo abri meu celular, dei uns scrolls nas redes sociais e me irritei. Peguei minha caneca de café e sentei para escrever. Ou seja, esta news foi produzida à base de irritação e cafeína — lo siento. Mentira, não lo siento nada.
Reconheço muitas coisas bacanas que as redes sociais nos proporcionam quando usadas de maneira virtuosa: troca, acesso, conhecimento, criação de comunidades, amizades, reivindicações políticas e até o surgimento de novas profissões remuneradas no campo da criatividade. Porém, nem todos usam as redes de maneira virtuosa ou, quando usam, não o tempo todo. Não vou entrar na discussão de fake news, cancelamentos brutais e a falta de legislação para um monte de coisas erradas que rolam na internet — que, de fato, estão ali no topo da lista de coisas ruins. Vou me ater ao meu universo de produção de conteúdo gastronômico que, apesar de singelo perto desses outros tipos de problemas, ainda afeta o dia a dia de muita gente, já que o que está por trás disso é uma engenhoca com uma lógica perversa — que não se limita a esse campo da comida, atingindo muitos outros setores também.
Vocês sabiam que o cara que inventou o scroll infinito, baseado na mesma lógica das máquinas de caça níquel, admitiu ter se arrependido dessa criação? Isso é para a gente entender a gravidade desse "pequeno" detalhe que viciou boa parte da humanidade neste movimento constante, sempre a espera de um conteúdo melhor, mais bonito, mais interessante, mais inspirador e que possa, sabe-se lá como, deixar nosso dia muito melhor. Os vídeos, formato que é a menina dos olhos do algoritmo, estão ficando mais frenéticos, e a nossa mente cada vez mais dispersa e saturada. Com isso, os dedinhos seguem incessantes tentando achar algo interessante. Mais do que nunca, a boa e velha analogia do ratinho na roda segue valendo.
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