TOMATE EM LATA, O REI DA MINHA DESPENSA
(...) não existe descuido mais vergonhoso do que o pela comida que comemos para viver. Quando existimos sem pensar ou sem gratidão, não somos homens, mas animais.* M. F. K. Fisher
Hoje esta newsletter completa um ano. E o que eu havia imaginado que seria uma news muito alegre, com direito a um sorteio no Instagram – inclusive já estou com um kit lindíssimo da IL CASALINGO pronto e embalado –, não será. Assim como mais nada será da forma que nós havíamos imaginado. A minha intenção com esta introdução não é ser apocalíptica, mas sim resiliente.
O mundo inteiro está passando por uma situação tão sem precedentes que não há manual de contenção de crise que consiga dar conta. Se está difícil imaginar como será o dia seguinte, que dirá um futuro próximo. Mas teremos que passar por isso. Não é uma escolha. E a verdade é uma só: se todos nós cooperarmos, e o quanto antes todos cooperarmos, antes e com menos perdas sairemos dessa. Então abracemos todos a realidade: ficar em casa, tentar manter nossos trabalhos a distância, dispensar nossos funcionários fazendo todo o esforço possível para que o seja de maneira remunerada, nos informarmos constantemente, conscientizarmos aqueles que ainda não se deram conta da gravidade do problema e agradecer todos os dias àqueles que seguirão trabalhando, como todos os profissionais da saúde, caixas de supermercados e farmácias, cozinheiros, entregadores de delivery, entre alguns outros.
Com certeza tiraremos grandes aprendizados disso tudo, pois a situação só escancara os grandes problemas e paradoxos do nosso atual modo de viver e, sobretudo, de consumir. Também seremos obrigados a nos adaptar a uma nova rotina dentro de casa. E cozinhar, com certeza, poderá ser uma das grandes formas de se ocupar, de se divertir e se unir aos demais ao seu redor. E esta newsletter é a minha humilde contribuição.
As receitas já tinham sido fotografadas havia algumas semanas, antes da quarentena. Coincidentemente, as receitas são centradas no tomate pelado em lata, o rei da minha despensa, e não posso deixar de lembrar que é um produto não perecível com o qual poderemos contar nos dias que virão. Mais uma vez, coincidentemente, as receitas escolhidas são três clássicos italianos – país que merece toda a nossa solidariedade e nossos sentimentos pelo que vem enfrentando. São variações do mesmo tema, que são inclusive bem parecidas, mas todas elas muito simples e muito reconfortantes. Vieram a calhar.
Então, queridos assinantes, sigamos resilientes, empenhados em fazer a nossa parte, mas também focados em tornar nossa casa um ambiente mais amável e mais acolhedor. É necessário.
Até a próxima news, que eu ainda não sei quando será, mas que será,
Lena
P.S.: Vale revisitar a definição de resiliência (substantivo feminino) no dicionário:
Fís. Elasticidade que faz com que certos corpos deformados voltem à sua forma original.
Fig. Capacidade de rápida adaptação ou recuperação.
P.S. 2: Passado todo esse imbróglio, vai ter sorteio!
*Tradução livre de "(...) there can be no more shameful carelessness than with the food we eat for life itself. When we exist without thought or thanksgiving we are not men, but beasts.”
VARIAÇÕES SOBRE O MESMO TEMA
Papa pomodoro
Quem me apresentou esse prato, muitos anos atrás, foi o chef André Mifano, quando eu era sommelière do seu restaurante Italiano Vito. Aquilo escorreu pela minha garganta diretamente para meu coração! Pão cozido em molho de tomate e nada mais. Uma versão parecida com o que minha mãe fazia para mim: abrir um pão francês e recheá-lo com molho.
VEJA A RECEITA COMPLETA AQUI.
Acquacotta
Receita que dá nome ao segundo livro de EMIKO DAVIES (lembram dela? Indiquei algumas news atrás). É um prato muito simples, que consiste em legumes cozidos em um molho de tomate, uma das receitas mais icônicos da região de Maremma, na Toscana (Itália). Cada nonna tem sua receita. Essa é apenas uma versão de tantas.
VEJA A RECEITA COMPLETA AQUI.
Ribollita
Mais uma receita toscana (!), que além do tomate mistura o típico feijão branco, lá chamado de cannellini, e couve. Eu fiz uma versão sem pão, pois o Papa Pomodoro já está fazendo as vezes, mas se tiver sobrando em casa… acrescente. Tem algum feijão branco dando sopa aí na despensa?
VEJA A RECEITA COMPLETA AQUI.
PARA LER | DIVERSAS OPÇÕES!
Acredito que seja um bom momento para recuperar aquela capacidade de atenção há tempos perdida para as redes sociais e inúmeras abas de internet abertas simultaneamente! Há quanto tempo você não devora um livro? Aqui vai uma lista de recomendações de leituras gastronômicas, mas que não são receitas. São histórias, crônicas, biografias e estudos que li ao longo dos anos e dos quais gostei muito.
Anota aí: Sangue, ossos e manteiga, da chef Gabrielle Hamilton; Aprendiz de cozinheiro, de Bob Spitz; Calor, de Bill Buford; Conforte-me com maçãs, de Ruth Reichl; Coming to My Senses, que já indiquei aqui anteriormente, da chef Alice Waters; Confissões de uma amante de vinhos, de Jancis Robinson; Love in a Dish and Other Pieces, de M. F. K. Fisher; O terceiro prato, do chef Dan Barber. Para quem usa tablet, é possível comprar a versão digital. Senão, procure comprar pela internet (se possível, de uma livraria de bairro ou de médio porte).
PARA OUVIR | HAPPY SONGS
Bora usar todos os recursos à nossa disposição para espantar tédio, medo e cansaço. Happy songs é uma pequena playlist com músicas que considero alegres, cheias de embalos leves e dançantes, melodias para cantarolar e assobiar pela casa. Vai arrumar o quarto, cozinhar; terminou de almoçar, tá precisando de um break? DÊ O PLAY!
PARA SEGUIR | SAM YOUKILIS
Bons conteúdos nunca foram tão necessários, não é mesmo? Pois Sam Youkilis é um fotógrafo americano que poderá entreter você com fotos e vídeos maravilhosos e supersensíveis que ele faz ao redor do mundo! São interações humanas cotidianas vistas por um ângulo diferente ou postas de maneira tão simples que nos alertam para o quanto nos passa despercebido no dia a dia. SIGA O SAM!