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SOPA, COMIDA DE ALMA

SOPA, COMIDA DE ALMA

Uma sopa substanciosa de batata com alho-poró e bacon para acalentar em dias de outono.

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May 09, 2025
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SOPA, COMIDA DE ALMA
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Sopa de batata, alho-poró e bacon. Foto: Fabrizio Lenci.

1. Poucas coisas são mais acalentadoras do que uma panela de sopa quente em um dia frio. O tempo passa, nossos costumes mudam, mas esse prazer não prescreve.

2. Nina Horta já dizia que sopa é comida de alma, que escorre pela garganta sem que seja preciso fazer esforço — ideal para quando estamos tristíssimos a ponto de não conseguir mastigar e engolir. Mas há também as sopas que não são cremosas e lisinhas, mas cheias de pedaços: carnes, legumes ou pão. Não sei se é impressão, mas sinto que o fato de ter que mastigar dá mais sustança.

3. Acredito também que o segredo de uma boa sopa é, além da intenção, um bom caldo - quase sempre de legumes ou frango. Mas fora do mundo ideal, há muitas receitas que aceitam bem a água no lugar do caldo — é questão de saber escolher o tipo de receita para não acabar com um líquido insosso. Porque na mesma medida em que uma sopa pode ser deliciosa e restauradora, ela pode ser aguada e triste.

4. Sopas também podem ser assustadoras, como a de frango que minha avó materna tomava quando estava doente. Me lembro de olhar, com a devida distância, para ela sentada no sofá com uma bandeja no colo e, sobre a bandeja, um prato do qual se via um pé de galinha saindo para fora do líquido branquelo. Um pé pálido, cozido, com aquela textura de couro da pele da galinha. Minha avó chupava aquele pé com gosto. Ela também gostava de comer fígado de boi cru com limão, um costume árabe.

5. Certa vez, em uma aula ministrada por Ana Soares, Neide Rigo e Mara Salles no evento Paladar Cozinha do Brasil, lambi e comi um pé de galinha que tinha sido glaceado em um molho levemente adocicado. Elas o apelidaram carinhosamente de “pérulito”. Vovó se fez presente, pois me lembro de ter gostado. Porém, hoje em dia, não sei dizer se gostei do pé em si ou da ideia de gostar de um pé de galinha, como a minha avó.

6. Voltando às sopas, me agrada o fato de que mesmo seguindo uma receita, uma não costuma ser igual à outra. Até porque sopas são como coração de mãe, e nelas sempre cabe aquele ingrediente a mais que está sobrando na geladeira. As folhas verdes ressequidas que parecem não servir para mais nada encontram uma segunda vocação e se tornam deliciosamente lânguidas quando nadam em uma sopa.

7. Hoje trago uma receita simples, dessas campesinas. Talvez não seja de um camponês brasileiro, mas de algum outro lugar do mundo. Ela leva a clássica combinação de batata e alho-poró (que também dá vida à vichyssoise) e é enriquecida com bacon, creme de leite e folhas de endro (dill). O creme de leite torna o líquido mais rico e cremoso e como ela ainda tem pedaços dos ingredientes todos, é substanciosa. Ainda assim, se você for do time dos que acham que sopa não alimenta: experimente comer mais de uma tigela de sopa e ainda acrescentar um bom pão rústico cortado em fatias grossas e besuntadas de manteiga salgada.

8. Para fechar, eu ia dizer para sermos felizes assim, com pouco, mas já nem sei se isso é pouco.

Até a próxima news,

Lena


UMA SOPA RÚSTICA E PEDAÇUDA

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