QUEIJO FETA MARINADO E A VIDA CULINÁRIA DE QUEM TEM FILHOS PEQUENOS
Como disse Laurie Colwin, nada complica mais seu estilo de vida culinário do que a chegada de um bebê.
Alô, alô foliões cansados e cheios de ressaca. Vos escrevo daqui de Barcelona, onde em fevereiro não tem festança de carnaval — pelo menos não igual à brasileira. O único dia de feriado é a terça. Nos demais, vida que segue sem ninguém macetar nada. Para completar, passei com uma filha doente, sem ir à escola por quatro dias, o que abalou a rotina da família inteira. Todos os planos e compromissos foram postos de lado para oferecer os cuidados necessários a esta doce e convalescida criança. Quando isso acontece, a casa vai ficando mais bagunçada e a comida mais improvisada — mas nem por isso pior. Acredito que seja possível se valer de alguns "truques" para continuar tendo boa comida feita em casa.
Pouco mais de dois anos atrás, eu tinha tempo e espaço mental de sobra para gastar com comida e meus jantares eram baseados simplesmente nos meus desejos. Durante o dia, no escritório, já começava a pensar no que eu queria cozinhar à noite; trocava umas ideias por mensagem com meu marido para ver se o que eu tinha em mente lhe apetecia; pesquisava algumas receitas, elegia a melhor ou então criava a minha própria. Na saída do trabalho, passava no mercado, ou em alguns mercados, para comprar o que era preciso e ia para casa desfrutar aquele momento. Música tocando, taça de vinho na mão…Tudo corria tranquilamente e culminava em um jantarzinho tranquilo e gostoso. Quando a preguiça ou a vontade de passear batia, bastava pegar a bolsa e sair para um restaurante. Aos finais de semana, os cafés da manhã eram lentos e longos, com preparos mais elaborados e terminavam no sofá com boas e silenciosas leituras.
Mas esses dias se foram, pois, como disse Laurie Colwin em seu ótimo livro More home cooking [Mais comida caseira], nada complica mais seu estilo de vida culinário do que a chegada de um bebê. E não é que seja difícil equilibrar os pratinhos "bebê" e "cozinha". É que o bebê, por si só, já é o equivalente a uma dúzia de pratinhos! Com uma criança, precisamos ter mais objetividade e praticidade. No meu caso, isso não significa que abri mão de comer bem, mas significa que precisei abrir mão daquele ritual todo, pois se eu for segurar minha filha com uma mão e o vinho com outra, com qual mão eu cozinho? Adeus, vinho! Como eu poderia, depois de um dia de trabalho, cozinhar um preparo elaborado tendo que parar para alimentar e banhar minha filha, bem como atender qualquer eventual necessidade ou exigência, como trocar uma fralda e acompanhá-la numa sessão de Meu vizinho Totoro, respectivamente? Adeus preparos elaborados durante a semana! Como manter uma criança dentro da rotina, dormindo no horário certo e acordando cedo para ir para a escola saindo para jantar à noite? Adeus jantares em restaurantes!
É claro que eu acho brechas e às vezes rolam exceções; é claro que aos fins de semana relaxamos e saímos da rotina; e é claro que amo minha filha mais que tudo nesse mundo. Mas a verdade é que a regra aqui na cozinha, nos dias de semana, tem sido essa: praticidade e conveniência. E tudo bem! Se você também tem uma criança pequena e sua vida na cozinha foi terrivelmente abalada: estamos juntas/juntos! O importante é saber que ainda é possível cozinhar e comer bem — e que essa fase há de passar.
O que me ajuda muito a fazer preparos rápidos e gostosos que cabem nessa rotina de cuidados maternos, é ter algumas coisas que são meio caminho andado na geladeira; que posso fazer uma boa quantidade de uma única vez e ir aproveitando ao longo dos dias (às vezes, semanas) e que posso usar de diversas maneiras. A coalhada preguiçosa e o tomatinho confitado são preparos com os quais faço sanduíches, entradas, uso como acompanhamento, base para molho e por aí vai. Vocês se lembram deles?
Também gosto muito de ter queijos diversos à mão. Mas às vezes a gente pode (e deve) dar um up neles, para variar o sabor de sempre, como nessa receita de queijo feta marinado. O preparo não exige quase nenhum esforço e proporciona um queijo levemente temperado e saboroso — além de render um pote lindo e dourado que dá um quentinho no coração toda vez que abro a geladeira e lembro que mesmo com pressa, sigo cozinhando, comendo e alimentando bem minha família.
Até a próxima news,
Lena
Queijo feta marinado
Nem sei se posso chamar isso de receita. Primeiro porque a ideia não é dar quantidades e nem combinações de sabores exatas — estamos falando de refeições que cabem em dias atribulados, lembram? Segundo porque o processo consiste basicamente em juntar tudo e esperar um ou dois dias. Aqui é mais ou menos disso com mais ou menos daquilo. A única coisa que não é mais ou menos é o resultado final.
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